Os gargalos em infraestrutura e os custos tributários impedem o Brasil crescer acima de 4% ao ano, argumenta o empresário Hildo Battistella, que expõe, em entrevista, suas preocupações e esperanças. “Devemos simplificar nosso sistema tributário e nossos governos; definir onde queremos chegar; deixar de ser paternalistas; e ganhar velocidade simplificando os acessórios e nos concentrando no realizar”, defende Battistella, que se apresentou na Exgpoestão, evento que ocorreu nesta semana em Joinville.
Ele afirma ainda que a infraestrutura é o grande entrave para o País crescer e que os investimentos no Porto Itapoá serão prioritários nos próximos cinco anos. “Já há gargalos em Itapoá”, diz o fundador do porto e ex-presidente do grupo Battistella.
E antecipa: “Não existirá um próximo ciclo econômico, haverá uma explosão na capacidade mental, que gerará transformações rapidinhas. Ninguém mais perguntará: como é nossa economia? Perguntarão: qual é o nosso novo gargalo, e como vamos equacioná-lo? Os ciclos serão muito curtos para serem chamados desta forma. Sem dúvida, deixaremos o ciclo agrícola e já começamos a entrar em fase de instrução e educação. A nova geração será melhor do que nós”, analisa o empreendedor.
Inimigos da indústria
“A Fiesc tem estudos críticos de toda a nossa indústria. Fomos os primeiros, novamente, a atacar os problemas. O governo estadual está consciente desses estudos. Mas, aqui, entram os problemas não equacionados que afetam todo o País. O valor do dólar (câmbio) e da tributação é que estão destruindo a nossa indústria. E principalmente Santa Catarina, que sempre foi um Estado exportador.”
Nova geração
“Aqui uma grande boa nova. A geração que ainda não passou dos 20 anos tem uma mente totalmente diferente da minha geração. Nós fomos educados para sermos cartesianos. Esses nossos novos, graças a Deus, vão ser mais decididos. Se aborrecem com deduções e análises demoradas. São muito mais intuitivos e decididos. Os jogos do celular ou dos games criaram um novo cérebro, que vai acelerar tudo. Então, o que vai acontecer? Muito mais do que nossas mentes cartesianas possam imaginar.”
Gargalo
“A infraestrutura é o grande gargalo para o País crescer. Isso é quase que unânime em toda nossa sociedade. O que não existe unanimidade é na definição das prioridades e nos esquemas de investimentos necessários. Hoje temos um plano montado pelo governo para investimentos nos próximos cinco anos de quase R$ 1 trilhão. Com o setor energético absorvendo aproximadamente 50% do total (incluindo o pré-sal da Petrobrás) e o setor logístico com 25% desse valor. Mas há problemas a enfrentar.”
Vinte anos
“Desde o começo da década de 50 já tínhamos, na Battistella, foco em transporte e movimentação. Operamos com transporte rodoviário. Já tivemos por duas ocasiões operações de navios e fomos os pioneiros em viabilizar acessos rodoviários na construção de Brasília. No final da década de 80, sentimos na pele o apagão portuário. Sete navios que fizemos charter para exportar nos deram prejuízos devido às deficiências do Porto de São Francisco do Sul. Fomos os padrinhos da luta para criação do que é hoje o Tesc.”
SC está melhor que o País
“A FGV e a Fiesp concluíram, na semana passada, a análise e criação do índice de transporte do País, baseados em dados físicos e custos das fontes de diferentes modais: aéreo, ferroviário, aquaviário, rodoviário e dutoviário. Comparando todas as informações consultadas com o benchmark de alguns outros países, o índice resultante foi 33. Ou seja, o País está só com 33% do que seria necessário para competirmos no mercado global. Santa Catarina, que está melhor do que o País em portos, mas pior em outros itens, tais como ferrovias e rodovias. Acredito que devemos estar (SC) alguns poucos pontos acima desses 33.”
Logística x competitividade
O fato de SC ter cinco portos aumenta a competitividade do Estado na atração de novos investimentos. Veja o caso da BMW, que optou por SC, e um dos fatores decisivos nessa escolha foi a nossa situação portuária. Mas o Estado tem problemas em logística. Por exemplo, o custo de transportar uma tonelada de frango de Chapecó aos nossos portos é várias vezes maior do que transportar uma tonelada de frango de Itapoá a Pussan, na Coreia do Sul.”
Exemplo
“A região Norte do Estado tem um potencial fantástico de crescimento para os próximos 25 anos. Temos vantagens estratégicas que podem nos levar adiante. O problema é que essas vantagens, sozinhas, não geram nada, depende de como as usarmos.”
Duplicar o Porto Itapoá
“Nosso esforço, hoje, é a ampliação do Porto Itapoá, que já se encontra com alguns gargalos. Tão logo tenhamos os marcos legais definidos, poderemos ter os valores a serem investidos. Itapoá é o novo foco no momento, e provavelmente para os próximos cinco anos.
20 anos até o porto
“A área de serviços, há 30 anos, era diminuta, hoje é dinâmica e significativa. Só a indústria é que está pagando o ônus das deficiências. Estamos melhorando e muito. Volto a Itapoá. Tempo para projeto e licença: 18 anos. Tempo para construção: mais dois anos, outros seis meses em operação só de transbordo (não havia estrada de acesso), totalizando 20 anos e meio. O comprimento do cais é de 630 metros, e quatro contêineres. Novo porto de Xangai: tempo total de projeto, construção e operação foi de dois anos e meio. O cais tem 22 km e tem mais de cem contêineres. Conclusão: temos que acelerar o processo de realizar nossos empreendimentos.” .
Qualidade
“Poderemos não ter os favores e benefícios federais de outras regiões, mas tenho certeza que estaremos achando soluções e novas oportunidades. Seremos, sem dúvida, líderes, com essas novas soluções, embora não venhamos a receber os bônus pela iniciativa. Seremos sempre mais qualidade do que quantidade, porque somos poucos, mas bons.”
Transformações econômicas
“Se analisarmos que há dois séculos não tínhamos nem moeda e hoje temos um sistema financeiro dos mais avançados do mercado, ninguém acreditaria. Ao verificarmos que nosso BNDES é maior do que Banco Mundial, BID e CAF somados, podemos ficar orgulhosos. E mais surpresos ficaremos, se analisarmos que o BNDES ficou para trás na área financeira interna.”
por Carolina Wanzuita RBS/Gazeta de Itapoá